15 maio 2010

DEPOIS DO DECORRER DA CRÔNICA


 - Que calor!!!
É assim que o garoto acredita que se deve começar uma crônica. Leu em uma outra crônica de Machado de Assis, um autor do qual nunca leu nenhuma obra literária a não ser a qual o garoto acaba de descrever, que diz em que os escritores de crônicas sempre começam uma crônica com uma frase curta exclamativa referindo-se ao quão quente se encontra o tempo. Pois bem, como estava quente mesmo naquele dia apesar de ter chovido, estava na verdade abafado, mas uniu-se a falta do que fazer e a lembrança da crônica do autor que nunca leu uma outra obra, continuou por assim a redigir. Achava interessante poder dizer a si mesmo que estava escrevendo uma crônica, e mesmo sem um tema concreto continuava escrevendo e vendo que não mudava muita cousa, sempre voltava a praticamente o começo do texto.
 - Ligo o ar?
Até parece, ligar o ar que respira? Incluiu o jovem a simples frase apenas para dar continuidade ao texto, mas na verdade achava melhor ligar o ar, mas não o ar - ar, e sim o ar-condicionado. Acabou por ligar o maldito aparelho. Bem o aparelho pode ser bendito também, mas neste caso ele pensou que era bendito mesmo. Agora sente frio. Torna-se maldito, mas seria bendito se tivesse pensado em bendito e maldito antes de ligar o ar.
 - Mas e o fim?
Tentava deixar o texto mais complexo, tentava recordar-se melhor doutra crônica, aquela da qual o tinha motivado a escrever esta da qual falamos, mas lembrava somente do principal assunto, que Machado explicava apenas como deve começar uma crônica, mas e para terminar?
O rapaz já cansado dessa ladainha de calor, que já estava desmotivando o leitor, mas que tambem não desanimava o autor, resolveu por enfim o fim na maldita ou bendita crônica. Assim o fez.
...
 - Puxa! Como penou o coitado! - pensou Machado.



STÊNIO SANTOS